Entrevista com Ricardo Bomeny

O FRANCHISING DEVE DUPLICAR ATÉ A COPA

A combinação de diversos fatores favoráveis deve fazer o franchising duplicar de tamanho até 2014, ano da Copa do Mundo de futebol no Brasil. Até lá as empresas devem movimentar mais de R$ 150 bilhões, prevê o presidente da Associação Brasileira de Franchising e da rede Bobs, Ricardo Bomeny. Nunca houve tanto interesse de empresas estrangeiras pelo mercado brasileiro, em decorrência do rápido crescimento desta área de negócios. Em 2010 o setor teve um crescimento espetacular de quase 20%. Neste ano, apesar do esfriamento da economia nos primeiros meses, o mercado deve crescer 15%, prevê Bomeny.

 

Sim, é uma tendência,  como reflexo do excelente desempenho que o franchising tem no Brasil. Nos últimos cinco anos o setor cresceu dois dígitos por período, pelo menos. Fechamos 2010 com um crescimento de quase 20% maior em relação ao ano passado. O faturamento ficou em  R$ 75 bilhões e o número de marcas chegou a 1.774, com  90 mil pontos de venda. A expectativa de crescimento para 2011 é de 15% de aumento no faturamento, 8% em novas redes (1920 marcas) e 12% em número de unidades (quase 100 mil pontos de venda). O setor deve gerar 12% a mais de empregos diretos, no total de 890 mil vagas.
 

É uma combinação de diversos fatores positivos. Primeiro, o bom desempenho da economia, do emprego e da renda. O setor também passou a atrair mais empresas. Outro fator é a grande expansão dos shopping center, em especial no interior do país. Hoje, quase 60% dos lojistas que ocupam os novos shopping são de marcas franqueadoras. Ou seja, temos ótima sinergia com outro segmento que vive boa fase de expansão.
O acesso a crédito em condições mais favoráveis também alavanca o setor. Cinco anos atrás não existiam financiamentos especiais  e o crédito disponibilizado era muito caro. Mas nos últimos cinco anos a ABF fez um trabalho mais agressivo, primeiro junto aos bancos federais (Caixa Econômica, Banco do Brasil, Banco de Nordeste, Bndes­),  no sentido de ampliar a oferta de financiamentos ao franchising. O mesmo aconteceu com os bancos privados (Bradesco, Itaú, HSBC). Além de abrir portas junto aos bancos públicos também conquistamos maior oferta de crédito na rede privada. Mostramos o potencial do nosso mercado aos bancos, o crédito aumentou e as taxas estão um pouco mais baixas.
Outro fator importante foi a adoção de um regime tributário menos oneroso para o pequeno varejista, com o Supersimples. Ou seja, existe um ambiente mais propício aos negócios. É melhor termos um regime tributário simplificado, mais fácil de recolher e fiscalizar. E, claro, poder pagar menos imposto. No setor de alimentação, por exemplo, o Supersimples reduz em 7 pontos percentuais na margem final do negócio.
Com os ventos favoráveis, o franchising tende a duplicar de tamanho até a Copa, com faturamento acima de R$ 150 bilhões.
 
 
O número de marcas de franquias cresce menos, ao redor de 10% ao ano. Neste ano deve chegar a 1.920 marcas, com cerca de 100 mil pontos de venda. Até a Copa deveremos ter 40% mais de marcas, ou seja perto de 2.500. Outro fenômeno interessante é o forte desejo de investidores virem ao Brasil. Nunca sentimos este interesse de forma tão agressivo como agora.
Um reflexo positivo pôde ser observado durante recente feira de varejo em Nova Iorque. Foi recorde o numero de executivos e empresários brasileiros interessados em conhecer as tendências do varejo mundial para aplicar no Brasil. A delegação brasileira foi majoritária pela primeira vez em cem anos da história deste evento, 32% do total de visitantes estrangeiros. Em todas as palestras o mercado brasileiro foi destacado como o que oferece melhores perspectivas de retorno para o investidor internacional. O que significa dizer que está todo mundo de olho em nosso mercado.
 
 
Atualmente apenas 8% do total existente são marcas internacionais. Por ser um volume baixo e existir grande interesse das multinacionais virem ao Brasil acredito que o total deva superar 15% até a Copa. Existem inúmeros consultores contratados pelas marcas estrangeiras em busca de boas oportunidades no Brasil em setores como alimentação, luxo, cosméticos, moda e hotelaria, que deverá deslanchar com a Copa e Olimpíadas.
 
 
Um dos setores mais promissores é a microfranquia, que não exige grandes investimentos em pontos comerciais, número de funcionários e cria a possibilidade de se prestar serviços a partir da casa do novo empreendedor. Também a área de serviços oferece grande potencial de crescimento, em especial na capacitação como um todo, não apenas escolas de idiomas.
Também aqui haverá maior demanda  daqueles que irão estar envolvidos nos negócios da Copa e Olimpíadas.
Observe que diversos setores estão bem há muitos anos, entre eles alimentação, com crescimento bom e constante, como um relógio; cosméticos, acessórios, bijuterias e o de capacitação (computação, educação corporativa e idiomas). São negócios que crescem a taxa de 20% para cima ao ano.
 
 
Assim como nos casos de países ou empresas que conseguem expansão acelerada, crescer rápido demais pode trazer gargalos. Nosso desafio atual é fazer que o crescimento do franchising seja sustentável. Ou seja, crescer de forma ordenada e organizada. O que traz necessidades como a contínua capacitação das empresas. Vamos trabalhar este tema como prioridade na ABF, mediante cursos para a melhoria da gestão. Ainda temos empresas franqueadoras de pequeno porte que, para crescerem, precisam de uma estrutura mais profissional. A ABF vai aumentar os cursos de capacitação com foco em melhoria da gestão do capital humano e de processos. O Brasil é o único país do mundo que tem cursos de MBA em franchising. Nos últimos três anos passaram por nossos programas mais de 180 executivos e empresários.
 
 
Uma frente que daremos prioridade é a melhoria do ambiente nas relações com o governo. Já temos três excelentes vetores que irão se desenvolver mais no futuro, na forma de acordos com o Sebrae, em que já temos vários projetos relevantes, como incubadora de franquias, assim como participação nas feiras de negócios regionais organizadas pela entidade e também projetos de capacitação para o setor de franchising pelo Sebrae.
Vale destacar ainda o convênio, com bons resultados na área governamental, estabelecido com a Apex, já no sexto ano de parceria, para exportar  marcas franqueadoras brasileiras e para a troca de informações ou inteligência comercial para vender nossos produtos em diversos países.
Este convênio funciona muito bem. Temos participado de várias feiras de franquias no Exterior e feito missões comerciais.
Atualmente existem 68 marcas brasileiras em 49 países. Portugal concentra o maior número delas: 29. A meta será ampliar mais o número de empresas lá fora. Nossas empresas precisam competir por maior espaço no Exterior, afinal muitas são referência de qualidade.
O Boticário, por exemplo, é a maior empresa brasileira franqueadora do mundo na área de cosméticos.
Além do Sebrae e Apex,  temos convênio com o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio que cria diversas frentes de atuação da ABF com o setor público. Tais acordos colocam o franchising como setor importante da economia na interlocução junto ao governo. Geram ainda pautas para a constante melhoria do setor, com a abertura de portas em todas as esferas oficiais, seja para discutir revisão do sistema tributário, lei da franquia e demais temas de interesse. Agora mesmo a ABF foi acionada para discutir como melhorar a capacitação de pessoal, a fim de atender a maior demanda prevista com a Copa e Olimpíadas.
 
 
Está bem, temos acordos com os principais bancos federais (Bndes, BB, Caixa Econômica e Banco do Nordeste). Temos feito ainda convênios com prefeituras do interior. Muitos prefeitos nos procuram para fomentar o franchising em suas regiões. Recentemente firmamos convênio com a prefeitura de São Bernardo, Ourinhos, Pederneiras e Maringá.
 

Vai ter presença recorde tanto de empresas brasileiras como estrangeiras. Já somos a segunda maior feira do mundo e a maior da América Latina. Acreditamos que iremos receber grande volume de empresas estrangeiras interessadas em conhecer novas oportunidades de expansão no Brasil. Decidimos ampliar a área de exposição em 25%.
 
 
 
Fonte: Revista Franquia & Negócios - Edição 36

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